Todas as vezes que Lúcio fechava os olhos, naquela noite, ele se lembrava. Era uma lembrança viva, traumática. Ele ouvia músicas, lia, perdia tempo nas redes sociais, tudo em busca de uma distração. Funcionava, por breve momento, mas quando o sono vinha e ele fechava os olhos, lá estava ela. Decidiu então sair - trocou de roupa, pegou um refrigerante na geladeira, abriu a porta da sala e foi para a noite. Andou sem rumo, sem eira nem beira, e quando se deu conta estava tão longe de casa que precisaria chamar um Uber quando fosse voltar - ficara cansado de tanto andar. Em sua caminhada distraiu-se vendo as luzes de Natal, cada casa decorada com tanto gosto, e se recordou da infância, época em que tinha alegria em viver. Olhou as luzes novamente e, amargurado, retomou os passos, pensando naquilo que o fizera sair de casa. De que adiantava continuar vivendo, se tudo se partira em pedaços? Em seu andar sem rumo, rumou para a decisão mais difícil de sua vida - a de não viver mais. Encontrou em seu caminho um viaduto - deveria servir. Na subida, Lúcio pensou naquela lembrança novamente, aquela que o mantivera acordado, e olhou no relógio. Eram 3h54 da manhã. Parecia, então, uma boa hora para morrer. E apenas foi.
